quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Inversão da Ficção

por Victo José da Silva Neto

A ficção científica evolui com uma aceleração diferente das ciências humanas. Entretanto, seu objeto de representação é sempre a fronteira, em sua época, ainda incógnita e desconhecida da nossa razão. Encontrei, por acaso, uma tendência, nas obras e principalmente nos filmes de ficção, ao profundo pessimismo com o futuro da humanidade e do planeta Terra. O ponto interessante é que houve uma reversão dos papéis, quando comparamos as obras atuais com as de alguns anos atrás.
Podemos buscar mais fundo ainda, mas 1953 já é tempo suficiente para demonstrar, com War of the Worlds, de H G Wells, como a temática da invasão alienígena representava um dos temas mais em voga no cinema de massa. A corrida espacial apenas começava, a NASA ainda não existia, e tudo que circulava sobre o tema entre o grosso da população era baseado em especulação e quase nada em ciência.
Em quase 60 anos, outros grandes ícones da produção cinematográfica marcaram época, cada geração teve seu épico de destruição da Terra por seres alienigenas. O meu, por exemplo, foi Independence Day. Na época, 1996, eu nem imaginava a propaganda norte-americana contida no filme, o protagonismo em alguma medida arrogante dos Estados Unidos no futuro da humanidade. Eu me divertia mesmo era com os aliens e as batalhas entre as naves alienigenas e os caças.
Talvez seja essa a lembrança que me faz refletir ao assitir Avatar. Há 14 anos atrás, nas telas dos cinemas nós estavamos sendo invadidos. Hoje nós somos retratados como os invasores. Os humanos são os impiedosos seres agressivos que graças a interesses superiores desprezam a vida e a comunidade do planeta alheio. E Avatar foi só o primeiro. Pois Pandorum deve estreiar no final do mês aqui no Brasil, e Batalha por T.E.R.A. no final de Maio. De um modo ou outro, eles devem reproduzir, sem o mesmo sucesso estrondoso, a temática de Avatar.
O nosso maior medo deixou de ser a invasão de seres desconhecidos. Hoje temos a consciência, de que nós mesmos podemos destruir nosso planeta; falta uma dose de auto-conhecimento? Ou uma dosagem menor de hipocrisia, quando discursamos sobre sustentabilidade mas continuamos fazendo tudo do mesmo jeito?
De qualquer modo a ficção já fez e continuará fazendo sua contribuição para retratar as fronteiras desconhecidas de nossa época. E realmente, um bando de et's cabeçudos parece mais inofensivo do que uma corporação capitalista em épocas de intensa concorrência.

Um comentário:

  1. Por isso eu acho que boas doses de roteiros fantasiosos dos melhores games e obras de ficcção deveriam ser obrigatórias. Hoje eu vejo Avatar e fico incrédulo de quão óbvio é. Não digo o roteiro manjado de Pochahontas, os cenários e fauna plagiados da Macalania Woods ou as etinias roubadas da Blizzard, me refiro à lição dada. Se o autor teve este filme pronto há 10 anos atrás, deveria ter feito o filme há 10 anos atrás. "Ó, mas ele esperou a tecnologia!". Sim e essa é a grande questão no mundo dos games. Lançam maravilhas gráficas com roteiros de merda que calam fracos e viciam novatos. Bull Shit!

    Bons aqueles que tiveram acesso a tudo de bom dos anos 80 e souberam ensinar seus filhos a pensar. Agora é no mínimo a nossa vez.

    Abraço!

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Uhmm... na verdade,